Tomei pela primeira vez contacto com a poesia do Alberto no Facebook e fiquei rendida ao fascínio dos seus poemas por tanto que nos proporcionam. A excelência da composição, a projecção de imagens e pensamentos, a consciencialização dos poemas, poemas em forma de pinturas carregados de sentido que o autor projecta de forma sublime que me ajudaram e continuam a inspirar.

O Alberto é um bom amigo, e esta selecção de poemas é uma homenagem pela poesia que nos escreve com a tranquilidade de um rio sagrado de sentires profundos como o Douro do seu coração a um poeta deste tempo que nos faz viajar (Eu sei que não gostas que te chamem poeta Alberto!) como lembrança.

Joana Silvestre
2018
Onde é que eu perdi uma mão
Com que abraço é que ganhei
Este silencio
Como fui eu dar à morte o meu
Amor

Em que dia terei eu morrido
Mãe
Chama-me para fora do tempo
Eu, quero voltar ao vazio
Enquanto o mundo dorme


Alberto Moreira Ferreira
Cifra leal de lavra em mim, e nenhum
Barulho destino ou volume como se as
Mónicas na jarra tivessem expressão
E o queijo sobre a mesa temesse nunca
Mais ouvir a sua voz


Alberto Moreira Ferreira
Dá-me um poema oriundo da essência do sangue para que eu possa levar as asas à manjedoura
Um poema vivo, de carne, verde e vermelho, um poema para dois poemas em que ambos festejamos o mar reflectindo os lagos
Anda, faz-me essa justiça, intima as partes pelo pé do próximo, que, recordarei o calor, direi a Seth que é tarde e à morte que é cedo
Mostrar-lhes-ei esse amigo das vastas primaveras
Dá-me um poema que me leve de debaixo da terra para o doce mel da flor de lis, do lírio, dos nossos abraços
Por tochas e chamas verdejantes
Menina de semear, dá-me um poema. Dá-me um poema bom



La vita pesa o no. Amare, l´amore é il desiderio di elaborare il bene per sempre.


Alberto Moreira Ferreira

Há dentro do frasco tudo que lhe foi dado
Aqueles adeuses silenciosos
Então adoptas o escaravelho e libertas-te
E numa teia azul vais frustrando a morte
Para que as rosas sobrevivam e a solidão
não nos coma


Alberto Moreira Ferreira
Começamos por habitar uma casa vibrante,
com os quartos cuidados, virados de frente,
e acabamos a viver numa com sono.
Estive sentado ao por do sol aquele tempo todo,
Chamei-te e tu não ouviste,
nem chegaste a saber que me doía o coração.
Não tinhas tempo, tu,
nunca tinhas tempo,
eu entre a vida e a morte tomei alguns remédios,
desejei tanto abraçar-te com as mãos que te dei
quando precisaste e agarraste a carne dos números,
lembro-me bem que tu,
que nunca tinhas tempo,
querias ser livre, já eu,
acabaria por perder a alma,
algum tempo depois por morrer.
Já são sete da manhã, fazes o possível e eu o impossível, ainda me pergunto aonde vamos a fugir.


Alberto Moreira Ferreira
Amo-te e encontro-nos
Amo-te e, desencontro
Amo-te porque nos substituo
Amo-te e não sei porquê
E na verdade eu, amo-te
Amo-te para não me esquecer
Amo-te porque quero lembrar
Amo-te porque não consigo
Imaginar a vida sem
Amor, eu amo-te para nunca
Mais deixar de a-mar


Alberto Moreira Ferreira
Sei que luar quero e não tenho boca
Também a vida não é uma língua
É acarinhar até a converter ao papel

Esboço um suplantar, creme menina
Domo-me e não a domo porque tudo
É tão pouco que atediava quem sou

A vida é um doce de sensualidade é como
A arte de um sorriso, de outra forma o sol
Não cabia em si e muito menos no mundo

Neste sou aquele grande
Pequenino


Alberto Moreira Ferreira
Quando te encontrei amei-te de imediato
E não sabia, e sem saber senti que sentia
Continuei a sentir que te amava por gosto de sentir
Depois e depois e... sempre naquele jardim interno de violetas
Continuei a amar-te depois do auge dos nossos mundos
Senti dois pássaros, nenhum muro, dois poemas mais
E continuava a amar-te se me tivesses oferecido
A oportunidade de nos fazer felizes como as estrelas do souto
Como é a primavera ao acordar a natureza
Sobre todas as paredes adquiridas
Que mais não deixam que saudade de já não te ouvir dizer
Meu Amor

Alberto Moreira Ferreira



O lobo curva-se ante Cibele, a te.la, deusa de mel
Um lobo não obedece ao ferro, dobrador de grilos
E ante o fígado de metal incandescente da glória
Vira as costas como a águia em vistas de falcão
Recusa a vitória doando o triunfo ao mar
Só ele enverga países de braços abertos
Ele medita no ventre das mães, e segue
O caminho dos homens até ao último porto
Raramente precisa de resposta e pergunta
Quando a procura é pela harmonia da porta
Pelo incenso vermelho do mar. Só o lobo é capaz
De libertar o escravo e vencer a fome das estrelas
Para o lobo a vitória, a única; é o sorriso ao chegar
Antes, porém, enfrenta os mármores dos carimbos
As noites sonâmbulas dos riscos, sempre de azuis
Os degraus ilusórios dos muitos labirintos de bordo
Os pântanos dos bois secos, dos relógios gigantes
O ponto de interrogação no céu de todas as silhuetas negras
Todos os duelos debaixo da ponte de giz e algodão até o mar
Vencidas as noites de musgo ele encontrará a última morada
Que o acompanhará ao último porto onde poderás ler:
Este atravessou os riffs das autoestradas cinzentas
Terá compreendido a espuma das ondas, a nívea do granito e do sal
Ela gravará o seu nome com o sangue honrado das grandes viagens
Pelo caminho o lobo dá-lhe todo o fio de ouro curvado
Por mais um dia de açucares, pela; o vinho da única magna que o ata
Quando um lobo parte só o murmúrio da única lua vestida de branco
Diz em silencio ao mar
Ele, foi o
Homem
O primeiro, a minha primeira ponte, e último
Presente desta 
Rosa
Martina


Alberto Moreira Ferreira
Pois, era cedo, muito cedo quando
fui limpar e abastecer os capoeiros.
O dia começara escuro, azulíneo,
era ainda aurora, vi pombas bravas,
dispersas sobre os cabos eléctricos,
um ou outro madrugador, a padeira,
de porta em porta, acaso ou não,
sentia-se a brisa fria, a solidão,
ouvia-se o silencio zumbir, e,
galos cantar, mas pouco a pouco foi clareando,
e por fim pude sentir
o calor da lua, de mel, e o sol chegar.


Alberto Moreira Ferreira
Quando eu morrer,
deixarei de ver os meus tristes,
Serei mais um em bom rigor jamais visto,
Um dia humus misturado com as flores, roxas,
Na terra amarela coberta por erva, verde
E a brisa desfeita nos teus lábios adormecidos.
Quando eu morrer adeus solidão,
Meu amor, serei só
Um dia esquecido, coração,
Como esse olhar derradeiro.

Alberto Moreira Ferreira 
Puseste a vida no móvel;
Uma rosa na mesa;
As chaves estão na porta,
do lado de dentro.

O quarto ganhou uma luz nova;
O ano está no fio da navalha;
E eu tenho mesmo de agradecer.
O relógio já não dá horas.

A morte começou finalmente
a desaparecer.
Nem há memória para lições,
da escola da rua
de palha de que já nem te
lembras o nome.

A realidade já não te quer matar;
Tens mais alargadores nas artérias;
O ecocardiograma revelou
muito amor.

Dá-me um jeito ao tapete do corredor;
Traz o vinho, aquele de notas florais;
Precisas de morrer para ser feliz.

Tens a casa bem arrumada;
O desejo que o coração bombeie;
Sabes o que é que está a tocar;
De que é que te queixas


Alberto Moreira Ferreira
Então isso é que é virtude,
Manifestar a palavra
Usando a língua a esconder,
As mãos
Da sombra que a sugeriu
Demasiado longe da imensidade?!
E o alheamento cuida dele?
E logo mais,
Enganará o coração?

À nossa volta o contrabando dá-se como países desabitados


Alberto Moreira Ferreira

Deita-se comida aos gatos e aparecem as gaivotas
Os homens não saem da sede, do jogo, dos berros
As mulheres, fecham-se nas casas e nada, nada satisfaz
Os bois continuam na pastagem, o do carolo a trabalhar
Os porcos da Ti Beatriz fazem da rua um chiqueiro
Lá em baixo na praia, a multidão morreu parcialmente
                                                 Da cinta para cima
                                                              ...
Esta urbanização por vezes é de um silencio vivo
                                                              ...
Os cães ou estão a dormir ou a comer ou a ladrar
As avestruzes da Adozinda só teem olhos para o troféu
E mesmo o sossego morto… nada, nada satisfaz


Alberto Moreira Ferreira
Desapareço sempre que um adeus acena
E cada vez mais um nada perene aumenta
E cada vez mais mortal na periferia fico
Apeado ao incêndio negro como mármore
Assobiando disperso expelindo a pedreira
Do armazém do meu copo sem lastro
Irremediavelmente roxo


Alberto Moreira Ferreira 
Podia ser folha de videira nas correntes quentes do mediterrâneo. Daria à costa fruto desabotoado de espinhos submerso no desejo dos peixes de chegarem a terra para se tornarem pétalas de íris em papel de cor. E seria o ribeiro que levaria os sonhos das aves de regresso ao interior das suas veias acariciando a pele humedecida do orvalho marítimo herdado dos rituais do amor em plena clareira primaveril. Eu seria o vento sul da praia seduzindo a graça dos mares que ofertaria às estrelas vestidas de azul para voltarmos a sorrir.


Alberto Moreira Ferreira

Anda e traz o perfume
O mel, e só
O mel coração
Depois, vamos
Ao lugar frutífero das estrelas
O sol a calma, a lua a calma
O mel acalma
A alma, a alma


Alberto Moreira Ferreira
À minha alma mendiga de amor:
saí de mim para chegar a nós
porque o amor é faculdade
que nos anima e o solitário
uma triste tristeza alegre sem
luz num dedo inútil para cortar


Alberto Moreira Ferreira 
A vida tem sido generosa comigo
Quanto mais escrevo mais fico só
E a esta hora até o rio dorme

Serei um monstro bom
Uma linha de água doce
Um povoado deixado à sua sorte para morrer

Cá no fundo a solidão é uma semente
Cujo silencio desenha
Desencadeia saudade
Faz-te desejar a morte

Tonto, sou um tonto
Carente sonhador
Tonto, incompreendido como todo o vento
De neve iludindo a dor
Porque se sofre
Porque se sofre


Alberto Moreira Ferreira 
É vital polir o mar, conceder-lhe decoro
Dotar os pombos de carácter e azevinho
Compreender todo o semeado bem como
Toda a margarida rendida ao fundo tal
Como é necessário libertar a verónica
Assim como devolver todas as rosas
Às liberdades acordadas segundo


Alberto Moreira Ferreira

T
u
és
o verão
e chegas-me
a oferta da lua e nós
dois fontanários de versos
arrumamos a noite pelo infinito
o teu corpo estende-me perfumes
a fragrâncias d´
a
m
o
r
.
.
.
não digas nada
açúcar é a brisa dos meus olhos
para que os dias sejam grandes
deixa-me sonhar


Alberto Moreira Ferreira
Já quase não tenho sombra
nem desculpa, nem desculpa
Sou cada vez menos aquele
estrangeiro, o estrangeiro
Será a conversa dos bêbados
uma tomada de consciência
e a sinceridade, evolução ¿¡


Alberto Moreira Ferreira
Poria os meus bombeiros no vulcão em erupção da marina
Abriria caminho habitando o seu corpo aos fios sem hesitar
Seria barco barquinho resina de um sável sem raios ósseos
Só para sentir essa roseta recife

Sorri - Provaria as sensações do calendário
Mais pequeno que o previsto - Menos Mais

Removeria o estômago das águas metálicas e como a lebre
Verteria todo o mar arredondando essa chave no tear pró-
Caríssima... até o verbo estaria correcto se não o fizéssemos
Regularmente a fugir no presente do indicativo e mais não
digo por uma azevia


Alberto Moreira Ferreira
As esculturas, passam os dias à pesca com os aparelhos
Os homens, parecem esponjas e berram como flores
As raparigas da rua trazem um monte de enfermidades
Os rapazes, coitados, não teem interesse algum
Os lugares vazios só têm dentes boca vento raiva
E eu aqui nesta pasmaceira a achar que mais vale só
Que sozinho não abdico deste sossego
Tristonho por nada, nadinha deste mundo


Alberto Moreira Ferreira
E como o lobo bom na paisagem habitada pelo silencio,
e pelos sons do tempo, tomado por uma dor do destino,
morro-me na saudade, e mato-me na solidão, aquela ponte,
fatal para homens que amam, para estranhos como eu.

De repente aparece-me o desejo, da tua voz, a vontade
do teu corpo, a ressonância do calor acalmar o lobo,
fitando a morte a tamborilar a membrana sombria do tambor.

Sou uma folha arqueando pelo coração, a vida inteira.


Alberto Moreira Ferreira
Não quero caminhar em direcção a nenhuma estrela,
detesto a minha sombra e a escuridão,
mas gosto de sentir que me amas.


Alberto Moreira Ferreira 
Passeáramos, entre nigelas dos campos
Entre braçadas de vidas sem horas sem;
Saltáramos dormideiras e lamas macias
E já exaustos, calmantes, como gentis diamantes à mesa
Sussurramos agrados acordando os momentos seguintes
Sobreexcitados, porém, o lustre elevado
Dos telhados fazendo brilhar as estrelas
Desligadas dos narcisos rosados ligados
À rede das cadeiras do 58... Eiffel... Oui
                   Et le vin apprécié...
                      LA VIE EST
Uma princesa                     Mon Amour


Alberto Moreira Ferreira
É verdade, é saudade, sim, e,
desejo, também

É o teu ritmo,

simples e, o feitiço do teu cabelo perfumado que ficou comigo desde aquele momento em que os nossos olhares, se cruzaram nas palavras que não dissemos, espontâneos, desarticulados, estrelados no suor momentâneo do pensamento sentindo o palpitar, despindo o batimento cardíaco sob a pele, cristalina

O tempo estende-nos um abraço quando nos tomamos de vagares, peregrinos, de cuidados especiais a sentirmos o êxtase dos itinerários, surpreendidos. Os teus olhos meigos ficaram dentro de mim. Quis o destino fazer uma barca cujo som das velas me ajuda a respirar a próxima página, escrevendo os nossos lábios, rebeldes, jovens em, estado creme, d´une inoubliable caresse... la lune... MEU AMOR


Alberto Moreira Ferreira 
Sentia-se o ritmo rejuvenescedor
O conforto dos múltiplos
As caricias cuidando, o impulso entusiasmante, o êxtase
O cheiro calmante da sensibilidade
As mãos mais humanas

Esquecia-se a angústia da espera
A eupatia do solitário de noivado
O tédio, o cansaço do jardim azul
O dissoluto das armas do mundo

Sentia-se o sossego, a estabilidade, a doçura, uma autêntica ave
É Maria cheia de graça senhora
De uma pureza íntima, sincera, erguendo fazendo o mar crescer
Mais verdadeiro e, gratificante
Que nenhum cobarde entende


Alberto Moreira Ferreira
Gosto de
sentir este rio às vezes
Que não consigo parar
E fingir ao som da sua música
Os olhos fechados a luz apagada e esquecer
Que não consigo esquecer o teu
Rosto, o beijo, o telefonema às vezes
A tua voz, sensual, as mamas
Tão pequenas e perfeitas, as coxas
Todas as curvas até ao mar
Pois eu sonho contigo amor
Outras vezes
O silencio tira-me o sangue todo e eu morro


Alberto Moreira Ferreira 
Se pensar no sucesso pessoal tendo como principio essencial a geração de vida a funcionalidade da mesma está gravemente ameaçada pela convergência da humanidade em sentido contrário ao mesmo, logo comprometedor do equilíbrio da grande matriarca impossibilitando a plena realização das partes. A harmonia é o melhor sucesso que se pode conquistar. Será a obtenção de materialidade continuando a fomentar a competição e facciosismo, bem como a destruição, por estatuto e reconhecimento social, além do comprometimento da humanidade e dos recursos naturais desequilibrando a grande mãe a melhor forma de obter realização pessoal? A questão é o que se entende por sucesso. Creio no complemento das naturezas assegurando o bom funcionamento das partes. Assim como a guerra, a desigualdade de género em momento algum fez qualquer sentido. Somos todos diferentes iguais, e com ênfase na qualidade de iguais nos deveríamos comportar, com respeito, transcendendo o vazio do lugar-comum fugindo à vulgaridade do sentimento de propriedade, redutor da humanidade, e do mundo que se desenha, sem qualquer sectarismo, discriminação cível politico e humano, isentos do ato machista, quer praticado pelo homem, quer pela mulher, beneficiando assim de um braço mais compatível, sensível e interacionista, pro-natura, demonstrado exemplarmente pelas ações da grande mãe.


Alberto Moreira Ferreira